terça-feira, 27 de junho de 2017

A pergunta feita pelo Cardoso


Por Eduardo Müller Saboia, MSc.

Albert Einstein, Alvin Toffler, Frederic Nietzsche e tantos outros insistiram em afirmar que a pergunta é mais importante que a resposta. Einstein afirmava que, se lhe fosse concedido 60 minutos para resolver um problema, passaria 55 deles formulando a pergunta certa e somente 5 minutos tentando responde-la. Toffler já dizia que uma resposta certa para uma pergunta errada vale menos que uma pergunta certa com a resposta errada. Para Nietzsche, “o pensador é antes de tudo dinamite, um aterrorizante explosivo que põe em perigo o mundo inteiro”. Filosofias à parte, saber perguntar é ter a chave certa para abrir as portas do conhecimento, romper parâmetros e simplesmente progredir e evoluir.

E por que se fazem tão poucas perguntas e constantemente se aceitam os fatos que chegam, sem contestá-los? Recentemente escrevi sobre a Pós-verdade (Ler artigo na Gazeta do Povo) e abordei o tema sobre o compartilhamento passivo de informações mentirosas em redes sociais, sem leitura, análise e verificação prévia da autenticidade dos fatos. Nas empresas, seja em Serviços ou Produção, questionam-se pouco as informações e processos de todos os dias.

Nesta semana fui surpreendido por uma pergunta de um novo e jovem colaborador na empresa em que trabalho. Confesso que não estava mais acostumado a pessoas questionando sobre determinados relatórios. Algumas informações são difundidas e provavelmente nem lidas ou os e-mails nem abertos. O mesmo acontece com notícias do mundo político e econômico, geralmente não discutidas e exploradas pela massa, apenas repassadas. Mas nesta semana a pergunta veio, o material foi analisado por alguém novo que teve o interesse de entender os detalhes daquele powerpoint.

Eu não sabia a resposta para aquela simples pergunta. Com sete anos no ramo e quase vinte de carreira, eu não parei para pensar, apenas passei rapidamente pelo material atualizado e repassei o conteúdo. Aquele detalhe havia passado por mim como havia passado por todos os demais, uns por não terem olhado, outros por não darem a devida importância. No meu mundo particular a la “Tempos Modernos” de Charlie Chaplin, apertando as porcas das minhas engrenagens diárias, eu não havia me atentado para um detalhe simples, mas que poderia fazer toda a diferença. E este mero detalhe, gerou uma pergunta simples e pura, que eu, momentaneamente, não soube responder.

E isso não acontece com a maioria ao estarem face a face com notícias de cunho político? Os entraves e polarizações político-partidárias, em destaque nesta semana com o depoimento do ex-presidente Lula, por acaso têm passado por sérias análises e discussões por parte da grande maioria da população, ou simplesmente cada polo virou manobra de perversas sanguessugas, interessadas somente na manutenção do poder?

Pela experiência que tenho, sei que a carapuça também pode ter servido para você. Lembrou-se daquele relatório que chegou com dados, não tão familiares, e deu aquela passada rápida por ele? Lembrou-se daquele discurso inflamado que repassou sem ao menos entender o que realmente significava? E aquele relatório financeiro do balanço trimestral com conceitos que são colocados com tamanha propriedade que você tem vergonha de perguntar o que significam? Já leu os propósitos do partido que defende com unhas e dentes em redes sociais? Tenho certeza que sim.

Perguntar: O quê? Por quê? Como? Quem? Quando? Onde? Quantos? - não mata ninguém. E por que se insiste, cada vez mais, em não fazer isso e calar-se, aceitando a enxurrada de informações e processos que caem no nosso colo todos os dias? Talvez seja porque, “por vezes as pessoas não querem ouvir a verdade porque não desejam que as suas ilusões sejam destruídas” (Nietzsche). Ou será por ignorância, arrogância, por preguiça, egoísmo ou mesmo por achar que não está sendo pago o suficiente ou que tem gente sendo paga para fazer aquilo por você. Infelizmente muitos pensam assim e perdem excelentes oportunidades de crescerem.

Ao não analisar e não questionar os padrões pré-estabelecidos e informações que chegam, tornamo-nos parte da média, que simplesmente cala, consente, cria e rompe pouco. Lembre-se que medíocre é uma derivação de média. Perdem-se, a cada minuto, oportunidades de ouro para progredir, melhorar a produtividade, eliminar tarefas sem valor agregado e, principalmente, aprender. Renunciar ao aprendizado é morrer um pouco por dia. Todo mundo quer um dia ver Deus, mas ninguém quer morrer. E o Brasil, está abaixo da linha da mediocridade em vários parâmetros, inclusive o ético e moral.

E Cardoso, continue a analisar e perguntar. Continue a ser um “aterrorizante explosivo” que colocará todos em perigo. Precisamos ser chacoalhados para mudar. O aprendizado é um exercício contínuo e vitalício. E para a sua informação, agora já sei a resposta para a sua pergunta.

Fica a reflexão!