Por Eduardo Müller
Saboia, MSc.
O que mais lhe atrai em um espetáculo musical?
A capacidade técnica dos músicos, a acústica do local, a liderança do regente
com seus movimentos inconfundíveis, desconcertantes e enigmáticos ou o conjunto
da obra? O que lhe faz cair o queixo e pensar: meu Deus, isso é incrível! Como
eles fazem isso? Que orquestra fantástica!
Agora pense na empresa onde trabalhou ou
trabalha, ou que lhe é fornecedora. Ou ainda, naquela que é cliente ou que já
ouviu falar ou leu em uma revista. O que a torna atraente? São os títulos e
habilidades de seus executivos e colaboradores, seus produtos repletos de
tecnologias e de qualidade? É o atendimento prestado pelos Revendedores, a
agilidade na reposição de uma peça? É o prato bem elaborado e na temperatura
certa, a cordialidade dos garçons, a limpeza? O que lhe faz cair o queixo e pensar: meu
Deus, eles são incríveis! Como eles conseguem fazer isso? Que empresa
fantástica!
O que lhe atrai? Alguma coisa ainda lhe atrai
com tantas empresas similares, com tantos produtos e preços semelhantes, com
tantas facilidades e ofertas? Provavelmente o resultado de Concertos lhe atraia
mais que do que de uma empresa, pois ainda não se tornaram commodities. Ainda possuem um “Q” a mais que encanta, diferencia e os
tornam especiais.
Empresas e algumas instituições religiosas
seculares perdem força diariamente por fazerem uso de modelos de administração
ultrapassados. Produzir para vender e gerar mais receita, por si só, já não
encanta os consumidores. Assim como os rituais religiosos que seguem a mesma
retórica há séculos também já não prendem a atenção dos fiéis. O mundo mudou, e
os modelos tradicionais, mesmo que importantíssimos para todos, precisam
acompanhar esta evolução.
O modelo atual de administração perde força a
cada dia. Gary Hamel, em seu livro “O que Importa Agora – como construir
empresas à prova de fracassos”, cita que em uma pesquisa realizada com 90 mil
trabalhadores em 18 países (inclusive o Brasil), somente 21% dos empregados
pesquisados estavam realmente engajados no trabalho, no sentido de que “fariam
aquele esforço extra” pelos empregadores. Outros 38% estavam em grande parte ou
totalmente desengajados, enquanto o restante se enquadrava num tépido
meio-termo. Hamel cita sabiamente: “Não há como adoçar a realidade: esses dados
representam a condenação contundente da administração tal como praticada hoje”.
Outro dado alarmante também citado por Hamel:
“por que será que menos de 4 em cada 10 consumidores do mundo desenvolvido
acreditam que as empresas fazem contribuições “um tanto” ou “em geral”
positivas para a sociedade? Por que será que apenas 19% dos americanos
respondem aos pesquisadores de opinião pública com a afirmação de que têm
“muita” ou “bastante” confiança nas grandes empresas (quando somente o
Congresso teve pior avaliação).” Outro dado importante: “15% dos entrevistados
avaliaram os padrões éticos dos executivos como “altos” ou “muito altos”.” Os
modelos de administração e de como os representantes das empresas vêm se
comportando perante a sociedade não são satisfatórios.
Com apenas um quinto dos empregados realmente
engajados, dois quintos dos consumidores acreditando nas reais contribuições
das empresas e um quarto tendo confiança nos principais comandantes, fica
difícil acreditar que o modelo atual terá uma vida útil muito prolongada.
Mas qual a saída viável? Por que é tão difícil
mudar o que não satisfaz quem produz e quem consome? O que está faltando às
organizações para conseguirem engajamento total de seus colaboradores e
satisfação de seus clientes?
Estudos e práticas de empresas que realmente
inovam mostram que consumidores esperam que, de fato, as empresas passem a se
envolver com os reais problemas enfrentados pela sociedade no dia a dia. Que os
discursos de sustentabilidade realmente transformem as cidades, que práticas e
atitudes possam mediar conflitos e melhorar de fato a segurança e a saúde das
pessoas. Os consumidores querem que as montadoras de fato parem de ofertar
veículos que poluem o ar que todos respiram, e não somente possuam fábricas
certificadas pela ISO14000. Esperam que as empresas que produzem alimentos
realmente ajudem, junto a governos e sociedade, a resolver o problema de
distribuição de alimentos do mundo e a fome de milhões de pessoas. E isso vale
para todos os segmentos de negócio.
Organizações precisam ter a coragem da inovação
e da discussão com a sociedade e com seus representantes, já que o mundo, da
maneira como está, não se sustentará por muito tempo. Já se nota isso com a
proliferação de grupos radicais terroristas, aumento das manifestações contra
governos, aumento da violência em centros urbanos - mesmo nos que antes eram
considerados seguros.
Os homens precisam inovar e mudar suas
práticas. Estas novas ideias deveriam mudar o comportamento das organizações
como um todo para a obtenção de resultados mais convincentes. Organizações e
imprensa comentam muito sobre a popularidade de políticos (em minha opinião
está correto), mas pouco se fala na popularidade das organizações privadas como
agentes de modificação das sociedades. E os índices de aceitação e popularidade
não são muito diferentes. Algo precisa mudar, novos modelos já aplicados por
organizações focadas em inovação precisam ganhar força e escala. O mundo merece
uma dedicação maior de todos.
Fica a reflexão.

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