quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Quais as novas responsabilidades das organizações?





Por Eduardo Müller Saboia, MSc.

O que mais lhe atrai em um espetáculo musical? A capacidade técnica dos músicos, a acústica do local, a liderança do regente com seus movimentos inconfundíveis, desconcertantes e enigmáticos ou o conjunto da obra? O que lhe faz cair o queixo e pensar: meu Deus, isso é incrível! Como eles fazem isso? Que orquestra fantástica!

Agora pense na empresa onde trabalhou ou trabalha, ou que lhe é fornecedora. Ou ainda, naquela que é cliente ou que já ouviu falar ou leu em uma revista. O que a torna atraente? São os títulos e habilidades de seus executivos e colaboradores, seus produtos repletos de tecnologias e de qualidade? É o atendimento prestado pelos Revendedores, a agilidade na reposição de uma peça? É o prato bem elaborado e na temperatura certa, a cordialidade dos garçons, a limpeza?  O que lhe faz cair o queixo e pensar: meu Deus, eles são incríveis! Como eles conseguem fazer isso? Que empresa fantástica!

O que lhe atrai? Alguma coisa ainda lhe atrai com tantas empresas similares, com tantos produtos e preços semelhantes, com tantas facilidades e ofertas? Provavelmente o resultado de Concertos lhe atraia mais que do que de uma empresa, pois ainda não se tornaram commodities. Ainda possuem um “Q” a mais que encanta, diferencia e os tornam especiais.

Empresas e algumas instituições religiosas seculares perdem força diariamente por fazerem uso de modelos de administração ultrapassados. Produzir para vender e gerar mais receita, por si só, já não encanta os consumidores. Assim como os rituais religiosos que seguem a mesma retórica há séculos também já não prendem a atenção dos fiéis. O mundo mudou, e os modelos tradicionais, mesmo que importantíssimos para todos, precisam acompanhar esta evolução.

O modelo atual de administração perde força a cada dia. Gary Hamel, em seu livro “O que Importa Agora – como construir empresas à prova de fracassos”, cita que em uma pesquisa realizada com 90 mil trabalhadores em 18 países (inclusive o Brasil), somente 21% dos empregados pesquisados estavam realmente engajados no trabalho, no sentido de que “fariam aquele esforço extra” pelos empregadores. Outros 38% estavam em grande parte ou totalmente desengajados, enquanto o restante se enquadrava num tépido meio-termo. Hamel cita sabiamente: “Não há como adoçar a realidade: esses dados representam a condenação contundente da administração tal como praticada hoje”.

Outro dado alarmante também citado por Hamel: “por que será que menos de 4 em cada 10 consumidores do mundo desenvolvido acreditam que as empresas fazem contribuições “um tanto” ou “em geral” positivas para a sociedade? Por que será que apenas 19% dos americanos respondem aos pesquisadores de opinião pública com a afirmação de que têm “muita” ou “bastante” confiança nas grandes empresas (quando somente o Congresso teve pior avaliação).” Outro dado importante: “15% dos entrevistados avaliaram os padrões éticos dos executivos como “altos” ou “muito altos”.” Os modelos de administração e de como os representantes das empresas vêm se comportando perante a sociedade não são satisfatórios.

Com apenas um quinto dos empregados realmente engajados, dois quintos dos consumidores acreditando nas reais contribuições das empresas e um quarto tendo confiança nos principais comandantes, fica difícil acreditar que o modelo atual terá uma vida útil muito prolongada.
Mas qual a saída viável? Por que é tão difícil mudar o que não satisfaz quem produz e quem consome? O que está faltando às organizações para conseguirem engajamento total de seus colaboradores e satisfação de seus clientes?

Estudos e práticas de empresas que realmente inovam mostram que consumidores esperam que, de fato, as empresas passem a se envolver com os reais problemas enfrentados pela sociedade no dia a dia. Que os discursos de sustentabilidade realmente transformem as cidades, que práticas e atitudes possam mediar conflitos e melhorar de fato a segurança e a saúde das pessoas. Os consumidores querem que as montadoras de fato parem de ofertar veículos que poluem o ar que todos respiram, e não somente possuam fábricas certificadas pela ISO14000. Esperam que as empresas que produzem alimentos realmente ajudem, junto a governos e sociedade, a resolver o problema de distribuição de alimentos do mundo e a fome de milhões de pessoas. E isso vale para todos os segmentos de negócio.

Organizações precisam ter a coragem da inovação e da discussão com a sociedade e com seus representantes, já que o mundo, da maneira como está, não se sustentará por muito tempo. Já se nota isso com a proliferação de grupos radicais terroristas, aumento das manifestações contra governos, aumento da violência em centros urbanos - mesmo nos que antes eram considerados seguros.

Os homens precisam inovar e mudar suas práticas. Estas novas ideias deveriam mudar o comportamento das organizações como um todo para a obtenção de resultados mais convincentes. Organizações e imprensa comentam muito sobre a popularidade de políticos (em minha opinião está correto), mas pouco se fala na popularidade das organizações privadas como agentes de modificação das sociedades. E os índices de aceitação e popularidade não são muito diferentes. Algo precisa mudar, novos modelos já aplicados por organizações focadas em inovação precisam ganhar força e escala. O mundo merece uma dedicação maior de todos.


Fica a reflexão.

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