segunda-feira, 24 de julho de 2017

"Quando muito ainda é pouco, você quer infantil e louco, um Sol acima do Sol."


Por Eduardo Müller Saboia, MSc.

Título extraído da música "Acima do Sol", Skank.

"Tenho a impressão de que estou cercado de inimigos, e, como caminho devagar, noto que os outros têm demasiada pressa em pisar-me os pés e bater-me nos calcanhares." Graciliano Ramos descreve bem a sensação de quem percebe que perto existem pessoas de ambição desenfreada, que não medem esforços para chegar e permanecer no poder, custe o que custar, seja para si ou para quem está ao seu lado.
E "quando a realidade me entra pelos olhos, o meu pequeno mundo desaba", afirma o mesmo autor. É frustante saber que pessoas transformam o digno momento do trabalho, que tanto enobrece e faz evoluir, em um jogo de xadrez com o pragmático objetivo de chegar e matar o rei, ou pelo menos, ser próximo para obter vantagens exclusivas. Justo Veríssimo, personagem de Chico Anísio, com seu humor politicamente incorreto para os dias de hoje, diria que isso é "coisa de pobre". Pobre de espírito, por certo.
O excêntrico escritor britânico Charles Colton, afirma de forma brilhante que "a ambição comete, em relação ao poder, o mesmo erro que a ganância em relação à riqueza: começa a acumulá-la como meio de felicidade, e acaba a acumulá-la como objetivo." E como tem gente que extrapola todos os limites, desrespeita colegas de trabalho e erra a freada diariamente para conseguir um lugar ao Sol.
O que chama a atenção é que muitos já estão bem posicionados, com bons cargos e salários. A sedução pelo poder parece movê-los, já que hoje cursos e mais cursos bombardeiam a todos, hora a hora, com o ideal de que vencer é preciso. Custe o que custar.
Nota-se esta necessidade de poder também diariamente nos noticiários, quando mais e mais escândalos de corrupção são descobertos. Os "esquemas" parecem ser movidos mais pela ambição do que pelo próprio dinheiro, até porque os corruptos precisarão de várias vidas para poder gastar tudo o que foi e está sendo desviado. Não deve ser por amor aos tataranetos ou só para poderem tomar bons vinhos.
Lembro que a ambição, quando ao lado da ética, é saudável e importante característica. O problema surge quando a mesma cega a pessoa e a ética é esquecida.
Já diria o poeta, Vinicius de Moraes: "você que só ganha para juntar, o que é que há, diz pra mim o que é que há? Você vai ver um dia, em que fria você vai entrar...Por cima uma lage, embaixo a escuridão, é fogo irmão, é fogo irmão!
Fica a reflexão!

O tiro na testa que o brasileiro ainda não levou e precisa levar.


Por Eduardo Müller Saboia, MSc.

Ao ver o noticiário nas últimas semanas, lembrei-me de um livro que tive que ler para o vestibular: O Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, escrito em 1911. Para quem não conhece ou não se lembra da narrativa, conta a história de um personagem patriota, ímpar, nacionalista ao extremo, estranho para a vizinhança justo pelos seus ideais, que acredita no Brasil como o melhor, o país do futuro. Cada ação dele volta-se para este objetivo maior, de ver sua pátria prosperar e produzir.
Mas Policarpo Quaresma não viu isso acontecer e foi considerado traidor da pátria pela República. Esta mesma República antiética e covarde que se vê hoje. Morreu na prisão pensando no quanto havia sido ingênuo e que levara sua vida em vão.
E quando leio frases dos atuais políticos brasileiros, do estilo "se eu for preso, não vale a pena ser honesto no Brasil", ou então "ninguém tem mais autoridade moral e ética do que eu para transformar a luta contra a corrupção não em bandeira, mas em uma prática cotidiana", me sinto um tanto Policarpo. A impressão que dá é que eu, pagador assíduo dos mais variados impostos, lutador e gerador de PIB, sou o errado, o estranho da vizinhança, o traidor ingênuo que leva uma vida em vão.
Defender a ética é defender o bem comum. Simples assim. Somente posso ser considerado ético se as minhas ações estão focadas para o bem de todos. Tudo o que não encontramos mais neste país, seja em esferas governamentais, empresariais, de serviços ou produção, é a ética. A bagunça é generalizada. O bem comum e fundamental foi esquecido e o Brasil faliu neste quesito e em tantos outros.
Recentemente a Noruega nos deu uma lição de ética e moral ao cancelar recursos para a defesa do meio ambiente e a nos cobrar medidas efetivas contra a corrupção. Até que isso aconteça, o cheque fica sustado.
Também em recente pesquisa divulgada pelo jornal Folha de São Paulo, a pedido do ETCO (Instituto de Ética Concorrencial), 90% dos jovens entre 14 e 24 anos avaliam a sociedade brasileira como nada ou pouco ética. A pesquisa foi feita em 130 cidades espalhadas pelo país. O percentual melhorou um pouco quando o entrevistado se auto avaliou, ou quando comentou sobre familiares e amigos. Mas não é menor que 57%. Os menos éticos, segundo os entrevistados, são os políticos, empresários e policiais militares, respectivamente, responsáveis pela nossa gestão e elaboração das leis, oferta de produtos e serviços e nossa segurança. E para quem acha que adolescentes e jovens não sabem o que é ética, a resposta mais comum foi de "respeitar o próximo". Só isso.
A graduada em Letras, Natacha Bastos, descreve com perfeição no site G1: "O brasileiro Policarpo, que tanto acreditava em mudanças e melhoras, que tanto valorizava o que de mais brasileiro havia, acaba sendo acusado de traidor, e morre na prisão. Ele, antes de sua morte, chega à conclusão que toda a sua vida, sua luta e todos seus sonhos foram em vão. A pátria brasileira, pela qual ele tanto sonhou e lutou, não existia."
Pode-se completar: a pátria brasileira, pela qual eu tanto sonho e luto, também não existe mais. Que ainda haja tempo do país tomar um tiro na testa, perder a memória e reaprender novos hábitos, semelhante ao personagem de Harisson Ford, Henry Turner***, no filme Regarding Henry (1991). Precisamos acordar, reavaliar, rediscutir, refazer, reaprender, reiniciar, reestruturar, voltar a sonhar, re, re, re, re este país. Da maneira como está, não dá mais!
Basta! Salve-se quem puder! O bem comum está sendo violentado diariamente em todas as esferas da sociedade e parece não haver mais solução sem um choque, uma ruptura ou revolução de verdade. É passada a hora de acordarmos feridos e sem memória, para um recomeço, para o novo, definitivamente ético e voltado para todos. É passada a hora de honrarmos a morte e os ideais patriotas do saudoso Policarpo Quaresma.
Acorda Brasil! Não podes ser gigante somente pela própria natureza! Estás morrendo para seus filhos! Orai e vigiai!

Fica a reflexão!

*** Henry Turner é um advogado de julgamento desprezível e implacável cuja vida é virada de cabeça para baixo quando ele foi baleado na cabeça durante um assalto. Ele sobrevive à lesão com danos cerebrais significativos e deve re-aprender a falar, andar e funcionar normalmente. Ele também perdeu a maior parte da memória de sua vida pessoal e deve se adaptar à vida com a família que ele não lembra. Para a surpresa de sua esposa e filha, Henry se torna um homem amoroso e afetuoso.

terça-feira, 27 de junho de 2017

A pergunta feita pelo Cardoso


Por Eduardo Müller Saboia, MSc.

Albert Einstein, Alvin Toffler, Frederic Nietzsche e tantos outros insistiram em afirmar que a pergunta é mais importante que a resposta. Einstein afirmava que, se lhe fosse concedido 60 minutos para resolver um problema, passaria 55 deles formulando a pergunta certa e somente 5 minutos tentando responde-la. Toffler já dizia que uma resposta certa para uma pergunta errada vale menos que uma pergunta certa com a resposta errada. Para Nietzsche, “o pensador é antes de tudo dinamite, um aterrorizante explosivo que põe em perigo o mundo inteiro”. Filosofias à parte, saber perguntar é ter a chave certa para abrir as portas do conhecimento, romper parâmetros e simplesmente progredir e evoluir.

E por que se fazem tão poucas perguntas e constantemente se aceitam os fatos que chegam, sem contestá-los? Recentemente escrevi sobre a Pós-verdade (Ler artigo na Gazeta do Povo) e abordei o tema sobre o compartilhamento passivo de informações mentirosas em redes sociais, sem leitura, análise e verificação prévia da autenticidade dos fatos. Nas empresas, seja em Serviços ou Produção, questionam-se pouco as informações e processos de todos os dias.

Nesta semana fui surpreendido por uma pergunta de um novo e jovem colaborador na empresa em que trabalho. Confesso que não estava mais acostumado a pessoas questionando sobre determinados relatórios. Algumas informações são difundidas e provavelmente nem lidas ou os e-mails nem abertos. O mesmo acontece com notícias do mundo político e econômico, geralmente não discutidas e exploradas pela massa, apenas repassadas. Mas nesta semana a pergunta veio, o material foi analisado por alguém novo que teve o interesse de entender os detalhes daquele powerpoint.

Eu não sabia a resposta para aquela simples pergunta. Com sete anos no ramo e quase vinte de carreira, eu não parei para pensar, apenas passei rapidamente pelo material atualizado e repassei o conteúdo. Aquele detalhe havia passado por mim como havia passado por todos os demais, uns por não terem olhado, outros por não darem a devida importância. No meu mundo particular a la “Tempos Modernos” de Charlie Chaplin, apertando as porcas das minhas engrenagens diárias, eu não havia me atentado para um detalhe simples, mas que poderia fazer toda a diferença. E este mero detalhe, gerou uma pergunta simples e pura, que eu, momentaneamente, não soube responder.

E isso não acontece com a maioria ao estarem face a face com notícias de cunho político? Os entraves e polarizações político-partidárias, em destaque nesta semana com o depoimento do ex-presidente Lula, por acaso têm passado por sérias análises e discussões por parte da grande maioria da população, ou simplesmente cada polo virou manobra de perversas sanguessugas, interessadas somente na manutenção do poder?

Pela experiência que tenho, sei que a carapuça também pode ter servido para você. Lembrou-se daquele relatório que chegou com dados, não tão familiares, e deu aquela passada rápida por ele? Lembrou-se daquele discurso inflamado que repassou sem ao menos entender o que realmente significava? E aquele relatório financeiro do balanço trimestral com conceitos que são colocados com tamanha propriedade que você tem vergonha de perguntar o que significam? Já leu os propósitos do partido que defende com unhas e dentes em redes sociais? Tenho certeza que sim.

Perguntar: O quê? Por quê? Como? Quem? Quando? Onde? Quantos? - não mata ninguém. E por que se insiste, cada vez mais, em não fazer isso e calar-se, aceitando a enxurrada de informações e processos que caem no nosso colo todos os dias? Talvez seja porque, “por vezes as pessoas não querem ouvir a verdade porque não desejam que as suas ilusões sejam destruídas” (Nietzsche). Ou será por ignorância, arrogância, por preguiça, egoísmo ou mesmo por achar que não está sendo pago o suficiente ou que tem gente sendo paga para fazer aquilo por você. Infelizmente muitos pensam assim e perdem excelentes oportunidades de crescerem.

Ao não analisar e não questionar os padrões pré-estabelecidos e informações que chegam, tornamo-nos parte da média, que simplesmente cala, consente, cria e rompe pouco. Lembre-se que medíocre é uma derivação de média. Perdem-se, a cada minuto, oportunidades de ouro para progredir, melhorar a produtividade, eliminar tarefas sem valor agregado e, principalmente, aprender. Renunciar ao aprendizado é morrer um pouco por dia. Todo mundo quer um dia ver Deus, mas ninguém quer morrer. E o Brasil, está abaixo da linha da mediocridade em vários parâmetros, inclusive o ético e moral.

E Cardoso, continue a analisar e perguntar. Continue a ser um “aterrorizante explosivo” que colocará todos em perigo. Precisamos ser chacoalhados para mudar. O aprendizado é um exercício contínuo e vitalício. E para a sua informação, agora já sei a resposta para a sua pergunta.

Fica a reflexão!

sábado, 22 de abril de 2017

Pós-verdade: agora a mentira não tem mais a perna curta. Tem status!




Por Eduardo Müller Saboia, MSc,

Tenho a honra e a responsabilidade de ter nascido em uma família que há séculos preza por valores como a verdade, honestidade, honradez, simplicidade e crença ao que é certo e para o bem, mesmo que este não seja o caminho mais fácil para prosperar. Assim tem sido desde os tempos de meus tataravós e trabalho para que assim continue com os meus filhos.
Tenho acompanhado as novas tendências globais e uma delas em especial me chamou muito a atenção, a criação da palavra "Pós-verdade" e a escolha dela como a palavra do ano 2016 pelo famoso dicionário Oxford. Primeiramente, pela natureza dos fatos, pois a princípio, a palavra é no mínimo intrigante. Em segundo lugar, preciso entender como lidar com esta nova realidade do mundo moderno e como criar meus filhos em uma sociedade onde as verdades não mais correspondem aos fatos, na qual a opinião simplesmente prevalece e ponto.
Não se pode ser ingênuo. A mentira sempre existiu desde que o mundo é mundo. Já ganhou guerras, já fechou acordos, já inspirou grandes movimentos e ideologias. Faz parte do dia-a-dia das pessoas. O que está acontecendo agora é diferente. As redes sociais catalizaram o potencial que ela por si só já tinha. Virou uma arma poderosa. É a afirmação de que a mentira vale mais do que realmente pesa, mais até que a própria verdade, que é glamourosa e que recompensa! Afinal, o pós-verdade pode ser entendido por alguns como uma evolução da verdade, o que de fato não é. Definitivamente, não é e não pode ser.
Ricardo Campelo Magalhães, consultor financeiro, escreveu: "Vivemos tempos curiosos, em que a verdade já não é o que era. À esquerda como à direita, a ciência da persuasão é hoje mais importante do que o rigor dos factos e conceitos frios como números e matemática." Atualmente os fatos importam menos do que aquilo em que as pessoas escolhem acreditar - ou seja, são tempos em que a verdade foi substituída pela opinião. 
E como isso pode nos impactar? Reputações de pessoas e empresas, construídas e mantidas a duras penas durante décadas ou mesmo séculos, podem ser arruinadas em minutos. Pessoas mal intencionadas, radicais em busca de poder e mercado, de forma fraudulenta, disseminam e tornam virais, vídeos, notícias e documentários que acabam com produtos, serviços e pessoas. Estudos indicam que mais de 70% das notícias que hoje são colocadas nas redes sociais são falsas. Somado a isso, nos deparamos com a pessoas que leem e analisam pouco e, que mesmo sem ler, compartilham como se verdade fosse, sem medir os possíveis impactos.
Parece besteira, mas empresas de jornalismo estão criando departamentos de verificação de notícias para não serem co-responsáveis pela disseminação de notícias inventadas. Organizações de todas as naturezas hoje tem a necessidade de verificar várias vezes dados de leitura de mercados, de posicionamento de produtos e marcas e até dados compartilhados por Associações, em teoria, confiáveis. Dados econômicos mascarados e adulterados, somente para que sejam bem vistos a aprovados pela grande massa.
Charles Darwin definiu que sobrevive aquele que se adapta melhor. Será que se ele fosse vivo hoje, diria que sobrevive quem influencia e molda a opinião pública melhor?
E você, qual a sua opinião? Eu preferia a palavra do ano de 2015 da Oxford, o Emoji "Chorando de Alegria". Ou será de tristeza depois de 2016?


Fica a reflexão!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Se sua principal resolução de ano novo foi a de emagrecer, saiba que o mundo precisa mais do que isso de você.


Segunda-feira, dia 09 de janeiro, data em que muitos brasileiros voltaram ao trabalho após as festas. Nestas, muitos prometeram muitas coisas para este novo ano que se inicia. Fogos de artifício anunciaram desejos de mudança, de renovação, de uma vida nova, de esperança por dias melhores. O homem ainda acredita, ainda bem, que dias melhores virão. E assim precisamos que seja para que a roda continue girando!

Mas resoluções de ano novo por si só não resolvem os problemas e não transformam sozinhas as mazelas sociais em oportunidades. Um desejo ou meta, por si só, não transforma pobreza em riqueza, ignorância em educação e conhecimento, angústia e tristeza em paz e alegrias. Tampouco os desejos sozinhos mudarão o mundo. Uma meta precisa estar acompanhada de um plano, de determinação, atitude de mudança, comprometimento e principalmente, de uma razão de fortalecimento coletivo.
Outro ponto que precisa ser dito. Metas que visam uma melhoria somente do próprio bem estar e que não agregam muito valor ao mundo, são metas fracas para você e para quem está a sua volta. Emagrecer faz bem, melhora a autoestima e reduz os gastos com saúde pública, pois uma população mais saudável e menos obesa diminui os riscos de problemas cardiovasculares e de diabetes. Mas não ajudam o mundo a distribuir os alimentos de forma mais ordenada e justa para aqueles que mais precisam e que passam fome. A humanidade precisa de uma vez por todas usar sua energia para coisas que realmente interessam e que farão a diferença para nossos descendentes.

No mundo corporativo, perece não ser diferente. É chegada a hora de muitos traçarem seus objetivos anuais. Da mesma maneira, quantos deles são para a promoção pessoal e ascensão dentro da empresa e quantos são traçados para resolver um problema crônico comum à organização ou aos respectivos clientes. Inúmeros são os problemas coletivos organizacionais que se arrastam por anos até que surge alguém com inteligência, determinação e atitude de mudança para resolvê-lo rapidamente.

Penso que temos capacidade para pensarmos além, para sermos mais ousados e criativos. Que as resoluções de início de um novo ano tragam metas factíveis, audaciosas, factíveis, temporais, objetivas e claras. Que visem o coletivo e não somente o individual. Que de fato tragam mais esperança por dias melhores e com menos conflitos. Que nos tornem melhores e mais felizes.

E você que prometeu emagrecer neste ano e iniciar uma nova dieta, já começou o processo de desintoxicação depois dos exageros das festas de final de ano? Começou também nesta segunda-feira? Sua resolução foi esta ou você foi um pouco mais criativo e audacioso? “Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. Assim, em cada lago a Lua toda brilha, porque alta vive.” (poema de Ricardo dos Reis (Heterônimo de Fernando Pessoa, in Ódes).

Fica a reflexão!