quinta-feira, 12 de julho de 2018

Los dos lados de la moneda (Revista HorizonteA - Argentina - 06/07/2018)






Récords de producción y desperdicio de alimentos desafían el futuro

Eça de Queiroz, escritor portugués, escribió que “es el comer lo que produce el hambre”. La frase, cerca de un siglo y medio después, parece encajar a la perfección con la actual demanda creciente de alimentos provocada por el aumento de la población, la mejora del ingreso mundial per cápita e importantes cambios en los hábitos de los consumidores.
Diariamente se lanzan nuevas tecnologías y técnicas en todos los procesos relacionados con la producción de alimentos. Es la Agricultura 4.0 o digital. Producir más y con calidad superior ha sido un mandamiento para todos los productores. Diversos sensores, junto a desarrollos de nano y biotecnología crean semillas más fuertes y productivas a partir de células madre. Una revolución que hace que una máquina aprenda de la otra y que juntas lleven más productividad al campo. Año tras año, nuevas fronteras agrícolas se superan y el hombre parece dominar el campo como nunca.
Sin embargo, hay algo que duele y, en definitiva, muestra la fragilidad de todo el sistema. Incluso frente al desafío hercúleo de producir un 40% más alimento para el 2030, el mundo se enfrenta a un desperdicio que se lleva un tercio de todo lo que produce.
De acuerdo con FAO, Organización de las Naciones Unidas para Alimentación y Agricultura, un 1,3 mil millones de toneladas de alimentos van a la basura cada año en todo el planeta, un volumen de comida suficiente como para alimentar a 2 mil millones de personas.
Y el desperdicio está en toda la cadena. Según datos de FAO en Argentina se derrochó en 2017 el 13 por ciento de la producción de alimentos, un valor equivalente a desechar un kilo de comida diario por habitante. Las rutas y embalajes en mal estado, la falta de capacitación de los recursos humanos, la selección a la hora de la compra y la cantidad de comida demás en el plato que no es llevada a la boca, son algunas causas de esas pérdidas. Estudios realizados en Brasil por ejemplo muestran que del total desperdiciado, 10% se pierde en el momento de la cosecha; 50% en la manipulación y el transporte; 30% en los centros de distribución; y el 10% restante en los mercados, puntos de venta y consumo.
Con tanto foco en la costosa y delicada producción, ¿por qué hay tantas dificultades para contener el desperdicio? ¿Hay demasiadas exigencias sobre la belleza y calidad de los alimentos, dejando de lado la vital utilidad de los mismos? ¿Por qué es tan difícil implementar soluciones legales de distribución para todo aquello que no se valora en los mercados?
El ser humano consume alimentos primero para satisfacer las necesidades básicas, pero una vez asegurado eso pasa a fijarse en el sabor, la variedad, la conveniencia y los atributos para mejorar la forma física y vivir mejor. El acceso fácil a los alimentos para gran parte de la población mundial conduce a la búsqueda de alimentos cada vez más vistosos y perfectos.
El precio que la humanidad está pagando por esta vanidad es justamente que un tercio de los alimentos terminen en la basura y 2 mil millones de personas padezcan, en la base de la pirámide, sin poder satisfacer sus necesidades básicas.
Para asegurar la alimentación de 8 mil millones en 2020, 9.800 millones de personas en 2050 y 11.200 millones en 2100, la introducción de nuevas técnicas de producción probablemente no será suficiente. Si no se hace nada al respecto, la porción de la humanidad que no consiga cubrir sus necesidades alimentarias básicas será cada vez mayor. Es necesario hacer algo de inmediato para reducir los desperdicios, contemplando una mejora de los flujos de distribución e incrementando la vida útil de los alimentos.
Eduardo Müller Saboia es técnico e ingeniero industrial mecánico con una posgraduación en Gestión Industrial y Business Management, y un Master en Administración Estratégica. Trabaja en la industria de la maquinaria agrícola y es profesor de Agricultura 4.0 en el posgrado de la Universidad Federal de Paraná (Brasil) y del Instituto Nomm en Curitiba.

É preciso mudar a imagem do agronegócio




Tudo que é miserável, por definição, é desprezível, é triste, é lamentável e perverso. Tudo que é ignorante é impolido, é selvagem, é incompetente e desinformado. Um Brasil de atual maioria histérica e desinformada, que vê, mas não lê, que dá opinião sem conhecer de fato o que está acontecendo, que discute, sem nem saber o que, está cada vez pior. Chegou-se enfim ao pior resultado possível depois de décadas de educação pífia: povo de maioria iletrada, um quadro político-econômico perverso e muitos querendo ocupar um lugar, quem sabe, inexistente.

O ataque da vez é direcionado ao agronegócio, mais precisamente ao uso de defensivos agrícolas e ao desmatamento. A maioria que pensa que o agro usa defensivos de maneira irresponsável e desmata ao apagar das luzes, como acontece com as aprovações das leis no Congresso, está pensando com o modelo mental de 1970. Aceitem, quase 50 anos já se passaram e muita coisa evoluiu. Lá sim, o uso dos então agrotóxicos era desenfreado, desmedido, em excesso, mortal, pela falta de informação no campo e nas cidades, sobre os efeitos de tal uso. Assim foi com o desmatamento, quando áreas gigantescas eram desmatadas em demonstração de progresso e acesso a modernidade. Duas contas pagas até hoje.

Atentemo-nos ao primeiro item: uso de defensivos agrícolas. Hoje existem milhares de tipos, para as mais diversas aplicações. Têm por objetivo defender as plantações das pragas, que teimam em destruir as culturas. Não têm por objetivo matar as pessoas ou causar-lhes câncer ou autismo. Responsáveis por 34% dos custos médios de plantio da soja e por 16% do milho, principais grãos plantados no país, pode-se imaginar que o agricultor moderno não tem por hábito querer aplica-los à revelia ou por hobby. Aplica-se na mais precisa necessidade. Equipamentos com agricultura de precisão o auxiliam a usar somente onde precisa, onde há a incidência real de pragas, evitando toda e qualquer aplicação sem fundamento científico. Protestar contra o uso de defensivos hoje é o mesmo que pedir aos médicos para não utilizarem mais os medicamentos para combate às doenças. Obviamente que seria melhor não os utilizar, mas os benefícios ainda são maiores que os danos.

Alternativas para o plantio de algumas culturas com uso mínimo de defensivos, principalmente de hortaliças e frutas, já foram implementadas e são muito promissoras. Verdadeiras fazendas, indoor, como se fossem solos no sentido vertical, em forma de fábricas, estão em franca expansão em países do hemisfério norte e logo chegarão com força no Brasil. Mas tudo tem seu custo.

Quanto ao desmatamento. Quem hoje insiste em acusar o agronegócio de desmatar o que resta de matas e florestas no planeta, talvez não tenha lido na íntegra os relatórios da NASA (falando em NASA irão acreditar, pois são os gringos falando e medindo nossos centímetros quadrados com raio laser) e da EMBRAPA (empresa tupiniquim, respeitadíssima aqui por quem a conhece e lá fora por todos). Ambos confirmaram que mais de 66% do território brasileiro é de áreas destinadas à proteção e preservação da vegetação nativa, diga-se aqui, áreas destinadas às unidades de conservação (13,1%), terras indígenas (13,8%) vegetação nativas ou áreas devolutas e não cadastradas (18,9%), e outros 20,5% de vegetação destinada à preservação dos imóveis rurais, imposto por lei. Hoje, entre pastagens e lavouras, temos somente 30,2%, distribuídos entre pastagens (21,2%), florestas plantadas (1,2%) e lavouras (7,8%). Onde está o desmatamento que é mostrado e histericamente vendido?

Sou um entusiasta da defesa da natureza e assim educo meus filhos. Mas o que se vende e se compartilha em mídias sociais precisa ser avaliado. É preciso lembrar que o agronegócio em 2017 representou 23,5% do PIB, a maior participação em 13 anos. Gerou mais de 35% dos empregos diretos no país, mas ao considerar toda a cadeia produtiva, foram mais de 45% da mão-de-obra brasileira. Foi a maior geração de empregos nos últimos cinco anos. A agricultura foi a principal contribuidora para a redução da inflação, e o único PIB positivo setorial dos últimos três anos. Em 2017, o PIB da agropecuária foi de 13,8% e representou mais de 45% de todas as exportações brasileiras. E aí, é a hora de atacar o agro, de manter o modelo mental de 1970 ou de você se atualizar e defender a maior fonte de geração de riquezas do país? 

Fica a reflexão!

Eduardo Müller Saboia é técnico e engenheiro industrial mecânico, pós-graduado em Gestão Industrial e Business Management e mestre em Administração Estratégica. Trabalha na indústria de maquinários agrícolas e é Professor de Agricultura 4.0 na Pós-graduação da UFPR e do Instituto nomm.

A ineficiências que alimenta fantasmas




Recentemente vi uma reportagem na TV que mostrava o excesso de chuvas no norte do país. Cenas semelhantes as reportagens de dez, vinte, trinta anos atrás. Se pegassem uma filmagem dos arquivos, provavelmente ninguém notaria a diferença. Regiões de um país distante e ainda isolado, abandonado e de negligenciada importância.

Um dos focos da reportagem foi a dificuldade de escoamento da safra para o porto de Itaqui, no Maranhão. As chuvas terminam por maltratar o que resta de alguns trechos das estradas. Castigadas, as mesmas se tornam intransitáveis ou dificultam ao extremo o transporte dos grãos para um crescente e importante porto para destinos como América e Europa. Lama, buracos e crateras, ausência de sinalização e assaltos constantes, são muitos os ingredientes para quem tenta escoar boa parte dos produtos resultantes do setor com único PIB positivo nos últimos três anos. Uma vergonha. Nas imagens, os caminhões pareciam serpentes pendendo hora para um lado, hora para outro.

Além da falta de condições mínimas para os profissionais que conduzem os caminhões, as cargas ficam por vezes dezenas de dias sem condições de armazenagem, fermentando, sob altas temperaturas e umidade, presas em dezenas de quilômetros de filas. Joga-se fora todo o trabalho de produção, seleção e armazenagem feito pelo produtor ou cooperativas. Além disso, são despejadas aos montes nas vias, no que resta dos acostamentos ou coisa que o valha.

O pesquisador e engenheiro agrônomo Thiago Péra, em sua dissertação de mestrado ligada à ESALQ, evidenciou que as perdas de grãos de soja e milho no Brasil, em transportes ou armazenagens, desde as fazendas até os centros consumidores e portos, passando por ferrovias e hidrovias, representaram em 2015 cerca de 2,381 milhões de toneladas, à época, 1,303% da produção. Isto representou, naquele ano, um prejuízo de 2,04 bilhões de reais, decorrentes de custos de oportunidades com vendas perdidas e gastos desnecessários.

Talvez aplicar a mesma proporção para os níveis de produção atuais, seja precipitado e não científico como fez o Sr. Péra. Mas de qualquer forma, nos dá uma boa noção do quanto o Brasil perderá na safra 17/18. Para a safra estimada, o país deverá jogar no lixo 2,99 milhões de toneladas de grãos, ou 2,56 bilhões de reais. Muito. Considerando que um frango consegue converter 1,8kg de ração em 1kg de carne, perdemos a oportunidade de gerar, em uma conta bem grosseira, cerca de 1,5 bilhão de quilos de carne.

Os motivos que levam às perdas? Vários. Segundo Péra, do total das perdas logísticas, o maior percentual está na armazenagem inadequada (67,2%). Mas as perdas nos transportes rodoviários representam cerca de 13,3%, terminais portuários mais 9%, transporte multimodal ferroviário outros 8,8% e o multimodal hidroviário 1,7%. E não estão concentradas em região específica. Os problemas são praticamente os mesmos do norte ao sul, do leste ao oeste. Falta infraestrutura básica de transportes e transbordos adequados.

 Iniciativas isoladas de cooperativas e produtores têm colocado muitos quilômetros de asfalto em estradas rurais Brasil afora. Isso já tem ajudado, e esperar o governo ter iniciativa própria não tem sido um bom caminho. Quando faz é uma iniciativa público-privada. Empresas que apostaram em transporte hidroviário estão crescendo como nunca. Mas há muito ainda a ser feito, pois além de dar condições às consolidadas áreas produtoras, há que preparar as novas fronteiras agrícolas para a inevitável expansão do celeiro do mundo. Há que se dar condições de armazenamento e escoamento para que seja possível alimentar o mundo. Os fantasmas da ineficiência não podem continuar a roubar os alimentos. Será que não estamos evoluídos o suficiente para minimizarmos as perdas em todo o fluxo?

Com um terço dos alimentos do mundo sendo desperdiçados, e tanta gente passando fome, fica difícil de entender porque se investe tanto na produção, em novas tecnologias e em novas fronteiras agrícolas, se há a incapacidade de gerenciar o escoamento e a correta distribuição de tudo que é produzido.
Fica a reflexão!

Eduardo Müller Saboia é técnico e engenheiro industrial mecânico, pós-graduado em Gestão Industrial e Business Management e mestre em Administração Estratégica. Trabalha na indústria de maquinários agrícolas e é Professor de Agricultura 4.0 na Pós-graduação da UFPR e do Instituto nomm.

Os dois lados da laranja: recordes de desperdício e produção de alimentos desafiam o amanhã.


Eça de Queiroz escreve que “é o comer que faz a fome”. Uma demanda crescente por alimentos, provocada pelo aumento populacional, melhoria da renda per capita mundial e pelas mudanças dos hábitos alimentares põe em cheque a segurança alimentar global.

Novas tecnologias e técnicas são lançadas diariamente em todos os processos ligados à produção de alimentos. É a Agricultura 4.0 ou digital. Produzir mais e com qualidade superior tem sido um mandamento para todos os produtores. Sensores, diagnósticos, nano e biotecnologia criam sementes mais fortes e produtivas e alimentos a partir de células tronco. Uma revolução que faz com que uma máquina aprenda com a outra e juntas tragam mais produtividade ao campo. Ano após ano, novas fronteiras agrícolas, novos maquinários e técnicas têm trazido recordes e mais recordes, mesmo com condições climáticas adversas. O homem parece conseguir dominar o campo e suas nuances como nunca.

Mas há algo que ainda incomoda muito e escancara a fragilidade do sistema e da mente humana. Mesmo em face a um desafio hercúleo de produzir 40% mais alimento que hoje, já em 2030, o mundo se depara com um desperdício que consome um terço de tudo que é produzido. Um bilhão e trezentos milhões de toneladas de alimentos vão para o lixo por ano em todo o planeta, suficiente para alimentar 2 bilhões de pessoas.

E o desperdício está em toda a cadeia. No Brasil, do total desperdiçado, 10% é perdido na hora da colheita, outros 50% no manuseio e transporte, outros 30% nas centrais de abastecimento e os restantes 10% nos mercados, pontos de vendas e consumo. A famosa apalpada na fruta, as folhas não tão bonitas e a quantidade de comida a mais no prato que não é levada à boca.

Com tanto foco na cara e arriscada produção, por que há tanta dificuldade em se conter o desperdício? Será que há exigência demais sobre a beleza e qualidade dos alimentos e se esquece a vital utilidade dos mesmos? Por que é tão difícil implementar soluções legais de distribuição para tudo aquilo que não é valorizado nos mercados?

O ser humano ingere alimentos primeiro para suprir as necessidades básicas, mas feito isso, passa a valorizar o sabor e a variedade, depois a conveniência, os atributos para melhorar a forma física, para viver melhor ou mesmo por status em restaurante sofisticados. É a pirâmide alimentar, abundante pelo acesso fácil, de certa maneira, aos alimentos. O acesso induz ao alimento cada vez mais bonito e perfeito. O preço que a humanidade está pagando por esta vaidade é justamente o de um terço de alimentos no lixo e 2 bilhões que padecem na base da pirâmide, sem suprir as necessidades básicas.

Para assegurar a alimentação de 8 bilhões em 2020, 9,8 bilhões de pessoas em 2050 e 11,2 bilhões em 2100, produzir com novas técnicas provavelmente não será suficiente. Há a necessidade imediata de reduzir os desperdícios, melhorar os fluxos de distribuição e durabilidade dos alimentos. Sem isso, a humanidade entrará em conflito e voltará à base da pirâmide, no estágio de suprir as necessidades básicas.

Fica a reflexão!

Eduardo Müller Saboia é técnico e engenheiro industrial mecânico, pós-graduado em Gestão Industrial e Business Management e mestre em Administração Estratégica. Trabalha na indústria de maquinários agrícolas e é Professor de Agricultura 4.0 na Pós-graduação da UFPR e do Instituto nomm.

segunda-feira, 24 de julho de 2017

"Quando muito ainda é pouco, você quer infantil e louco, um Sol acima do Sol."


Por Eduardo Müller Saboia, MSc.

Título extraído da música "Acima do Sol", Skank.

"Tenho a impressão de que estou cercado de inimigos, e, como caminho devagar, noto que os outros têm demasiada pressa em pisar-me os pés e bater-me nos calcanhares." Graciliano Ramos descreve bem a sensação de quem percebe que perto existem pessoas de ambição desenfreada, que não medem esforços para chegar e permanecer no poder, custe o que custar, seja para si ou para quem está ao seu lado.
E "quando a realidade me entra pelos olhos, o meu pequeno mundo desaba", afirma o mesmo autor. É frustante saber que pessoas transformam o digno momento do trabalho, que tanto enobrece e faz evoluir, em um jogo de xadrez com o pragmático objetivo de chegar e matar o rei, ou pelo menos, ser próximo para obter vantagens exclusivas. Justo Veríssimo, personagem de Chico Anísio, com seu humor politicamente incorreto para os dias de hoje, diria que isso é "coisa de pobre". Pobre de espírito, por certo.
O excêntrico escritor britânico Charles Colton, afirma de forma brilhante que "a ambição comete, em relação ao poder, o mesmo erro que a ganância em relação à riqueza: começa a acumulá-la como meio de felicidade, e acaba a acumulá-la como objetivo." E como tem gente que extrapola todos os limites, desrespeita colegas de trabalho e erra a freada diariamente para conseguir um lugar ao Sol.
O que chama a atenção é que muitos já estão bem posicionados, com bons cargos e salários. A sedução pelo poder parece movê-los, já que hoje cursos e mais cursos bombardeiam a todos, hora a hora, com o ideal de que vencer é preciso. Custe o que custar.
Nota-se esta necessidade de poder também diariamente nos noticiários, quando mais e mais escândalos de corrupção são descobertos. Os "esquemas" parecem ser movidos mais pela ambição do que pelo próprio dinheiro, até porque os corruptos precisarão de várias vidas para poder gastar tudo o que foi e está sendo desviado. Não deve ser por amor aos tataranetos ou só para poderem tomar bons vinhos.
Lembro que a ambição, quando ao lado da ética, é saudável e importante característica. O problema surge quando a mesma cega a pessoa e a ética é esquecida.
Já diria o poeta, Vinicius de Moraes: "você que só ganha para juntar, o que é que há, diz pra mim o que é que há? Você vai ver um dia, em que fria você vai entrar...Por cima uma lage, embaixo a escuridão, é fogo irmão, é fogo irmão!
Fica a reflexão!

O tiro na testa que o brasileiro ainda não levou e precisa levar.


Por Eduardo Müller Saboia, MSc.

Ao ver o noticiário nas últimas semanas, lembrei-me de um livro que tive que ler para o vestibular: O Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, escrito em 1911. Para quem não conhece ou não se lembra da narrativa, conta a história de um personagem patriota, ímpar, nacionalista ao extremo, estranho para a vizinhança justo pelos seus ideais, que acredita no Brasil como o melhor, o país do futuro. Cada ação dele volta-se para este objetivo maior, de ver sua pátria prosperar e produzir.
Mas Policarpo Quaresma não viu isso acontecer e foi considerado traidor da pátria pela República. Esta mesma República antiética e covarde que se vê hoje. Morreu na prisão pensando no quanto havia sido ingênuo e que levara sua vida em vão.
E quando leio frases dos atuais políticos brasileiros, do estilo "se eu for preso, não vale a pena ser honesto no Brasil", ou então "ninguém tem mais autoridade moral e ética do que eu para transformar a luta contra a corrupção não em bandeira, mas em uma prática cotidiana", me sinto um tanto Policarpo. A impressão que dá é que eu, pagador assíduo dos mais variados impostos, lutador e gerador de PIB, sou o errado, o estranho da vizinhança, o traidor ingênuo que leva uma vida em vão.
Defender a ética é defender o bem comum. Simples assim. Somente posso ser considerado ético se as minhas ações estão focadas para o bem de todos. Tudo o que não encontramos mais neste país, seja em esferas governamentais, empresariais, de serviços ou produção, é a ética. A bagunça é generalizada. O bem comum e fundamental foi esquecido e o Brasil faliu neste quesito e em tantos outros.
Recentemente a Noruega nos deu uma lição de ética e moral ao cancelar recursos para a defesa do meio ambiente e a nos cobrar medidas efetivas contra a corrupção. Até que isso aconteça, o cheque fica sustado.
Também em recente pesquisa divulgada pelo jornal Folha de São Paulo, a pedido do ETCO (Instituto de Ética Concorrencial), 90% dos jovens entre 14 e 24 anos avaliam a sociedade brasileira como nada ou pouco ética. A pesquisa foi feita em 130 cidades espalhadas pelo país. O percentual melhorou um pouco quando o entrevistado se auto avaliou, ou quando comentou sobre familiares e amigos. Mas não é menor que 57%. Os menos éticos, segundo os entrevistados, são os políticos, empresários e policiais militares, respectivamente, responsáveis pela nossa gestão e elaboração das leis, oferta de produtos e serviços e nossa segurança. E para quem acha que adolescentes e jovens não sabem o que é ética, a resposta mais comum foi de "respeitar o próximo". Só isso.
A graduada em Letras, Natacha Bastos, descreve com perfeição no site G1: "O brasileiro Policarpo, que tanto acreditava em mudanças e melhoras, que tanto valorizava o que de mais brasileiro havia, acaba sendo acusado de traidor, e morre na prisão. Ele, antes de sua morte, chega à conclusão que toda a sua vida, sua luta e todos seus sonhos foram em vão. A pátria brasileira, pela qual ele tanto sonhou e lutou, não existia."
Pode-se completar: a pátria brasileira, pela qual eu tanto sonho e luto, também não existe mais. Que ainda haja tempo do país tomar um tiro na testa, perder a memória e reaprender novos hábitos, semelhante ao personagem de Harisson Ford, Henry Turner***, no filme Regarding Henry (1991). Precisamos acordar, reavaliar, rediscutir, refazer, reaprender, reiniciar, reestruturar, voltar a sonhar, re, re, re, re este país. Da maneira como está, não dá mais!
Basta! Salve-se quem puder! O bem comum está sendo violentado diariamente em todas as esferas da sociedade e parece não haver mais solução sem um choque, uma ruptura ou revolução de verdade. É passada a hora de acordarmos feridos e sem memória, para um recomeço, para o novo, definitivamente ético e voltado para todos. É passada a hora de honrarmos a morte e os ideais patriotas do saudoso Policarpo Quaresma.
Acorda Brasil! Não podes ser gigante somente pela própria natureza! Estás morrendo para seus filhos! Orai e vigiai!

Fica a reflexão!

*** Henry Turner é um advogado de julgamento desprezível e implacável cuja vida é virada de cabeça para baixo quando ele foi baleado na cabeça durante um assalto. Ele sobrevive à lesão com danos cerebrais significativos e deve re-aprender a falar, andar e funcionar normalmente. Ele também perdeu a maior parte da memória de sua vida pessoal e deve se adaptar à vida com a família que ele não lembra. Para a surpresa de sua esposa e filha, Henry se torna um homem amoroso e afetuoso.

terça-feira, 27 de junho de 2017

A pergunta feita pelo Cardoso


Por Eduardo Müller Saboia, MSc.

Albert Einstein, Alvin Toffler, Frederic Nietzsche e tantos outros insistiram em afirmar que a pergunta é mais importante que a resposta. Einstein afirmava que, se lhe fosse concedido 60 minutos para resolver um problema, passaria 55 deles formulando a pergunta certa e somente 5 minutos tentando responde-la. Toffler já dizia que uma resposta certa para uma pergunta errada vale menos que uma pergunta certa com a resposta errada. Para Nietzsche, “o pensador é antes de tudo dinamite, um aterrorizante explosivo que põe em perigo o mundo inteiro”. Filosofias à parte, saber perguntar é ter a chave certa para abrir as portas do conhecimento, romper parâmetros e simplesmente progredir e evoluir.

E por que se fazem tão poucas perguntas e constantemente se aceitam os fatos que chegam, sem contestá-los? Recentemente escrevi sobre a Pós-verdade (Ler artigo na Gazeta do Povo) e abordei o tema sobre o compartilhamento passivo de informações mentirosas em redes sociais, sem leitura, análise e verificação prévia da autenticidade dos fatos. Nas empresas, seja em Serviços ou Produção, questionam-se pouco as informações e processos de todos os dias.

Nesta semana fui surpreendido por uma pergunta de um novo e jovem colaborador na empresa em que trabalho. Confesso que não estava mais acostumado a pessoas questionando sobre determinados relatórios. Algumas informações são difundidas e provavelmente nem lidas ou os e-mails nem abertos. O mesmo acontece com notícias do mundo político e econômico, geralmente não discutidas e exploradas pela massa, apenas repassadas. Mas nesta semana a pergunta veio, o material foi analisado por alguém novo que teve o interesse de entender os detalhes daquele powerpoint.

Eu não sabia a resposta para aquela simples pergunta. Com sete anos no ramo e quase vinte de carreira, eu não parei para pensar, apenas passei rapidamente pelo material atualizado e repassei o conteúdo. Aquele detalhe havia passado por mim como havia passado por todos os demais, uns por não terem olhado, outros por não darem a devida importância. No meu mundo particular a la “Tempos Modernos” de Charlie Chaplin, apertando as porcas das minhas engrenagens diárias, eu não havia me atentado para um detalhe simples, mas que poderia fazer toda a diferença. E este mero detalhe, gerou uma pergunta simples e pura, que eu, momentaneamente, não soube responder.

E isso não acontece com a maioria ao estarem face a face com notícias de cunho político? Os entraves e polarizações político-partidárias, em destaque nesta semana com o depoimento do ex-presidente Lula, por acaso têm passado por sérias análises e discussões por parte da grande maioria da população, ou simplesmente cada polo virou manobra de perversas sanguessugas, interessadas somente na manutenção do poder?

Pela experiência que tenho, sei que a carapuça também pode ter servido para você. Lembrou-se daquele relatório que chegou com dados, não tão familiares, e deu aquela passada rápida por ele? Lembrou-se daquele discurso inflamado que repassou sem ao menos entender o que realmente significava? E aquele relatório financeiro do balanço trimestral com conceitos que são colocados com tamanha propriedade que você tem vergonha de perguntar o que significam? Já leu os propósitos do partido que defende com unhas e dentes em redes sociais? Tenho certeza que sim.

Perguntar: O quê? Por quê? Como? Quem? Quando? Onde? Quantos? - não mata ninguém. E por que se insiste, cada vez mais, em não fazer isso e calar-se, aceitando a enxurrada de informações e processos que caem no nosso colo todos os dias? Talvez seja porque, “por vezes as pessoas não querem ouvir a verdade porque não desejam que as suas ilusões sejam destruídas” (Nietzsche). Ou será por ignorância, arrogância, por preguiça, egoísmo ou mesmo por achar que não está sendo pago o suficiente ou que tem gente sendo paga para fazer aquilo por você. Infelizmente muitos pensam assim e perdem excelentes oportunidades de crescerem.

Ao não analisar e não questionar os padrões pré-estabelecidos e informações que chegam, tornamo-nos parte da média, que simplesmente cala, consente, cria e rompe pouco. Lembre-se que medíocre é uma derivação de média. Perdem-se, a cada minuto, oportunidades de ouro para progredir, melhorar a produtividade, eliminar tarefas sem valor agregado e, principalmente, aprender. Renunciar ao aprendizado é morrer um pouco por dia. Todo mundo quer um dia ver Deus, mas ninguém quer morrer. E o Brasil, está abaixo da linha da mediocridade em vários parâmetros, inclusive o ético e moral.

E Cardoso, continue a analisar e perguntar. Continue a ser um “aterrorizante explosivo” que colocará todos em perigo. Precisamos ser chacoalhados para mudar. O aprendizado é um exercício contínuo e vitalício. E para a sua informação, agora já sei a resposta para a sua pergunta.

Fica a reflexão!