foto: montagem com fotos retiradas da internet, podem conter direitos autorais.
Por Eduardo Müller
Saboia, M. Sc.
O Brasil é tão
contraditório que, em pleno verão, o Papai Noel se veste com roupas pesadas, os
enfeites natalinos vertem neve e tradicionalmente as pessoas comem castanhas,
avelãs, amêndoas e nozes, frutos oleaginosos e calóricos, atípicos para a
estação de um país majoritariamente tropical. Por mais que o Papai Noel venha
do polo Norte, não haveria razão para não se livrar das roupas pesadas ao
entrar em território brasileiro e se vestir com bermuda e camiseta, em plenos 40°C,
à sombra.
Sim, o Brasil é o
país das contradições. Provavelmente é o melhor neste quesito. Entendê-lo, não
é tarefa fácil nem mesmo para brasileiros, como eu. Tom Jobim, memorável músico
brasileiro, dizia que o “Brasil não é para principiantes”. Na mesma linha, Belmiro
Valverde Jobim Castor, PhD em Administração Pública pela Southern Califórnia, deixou
isso bem claro no livro “O Brasil não é para Amadores – Estado, Governo,
Burocracia na Terra do “Jeitinho””, também lançado nos Estados Unidos.
Quando o preço do
petróleo cai no mercado internacional, o preço da gasolina aumenta nos postos.
Nos dias de péssimas notícias no mercado financeiro, a Bolsa de Valores sobe.
Enquanto poucos têm muito, muitos têm pouco. Têm-se campeões mundiais e
olímpicos em diversas modalidades do esporte, mas políticas pífias de incentivo
aos mesmos. Ser brasileiro é um orgulho enorme e todos que aqui chegam, o amam
e não o deixam. Mas poucos se surpreendem quando milhares são mortos em
acidentes nas estradas ou em assaltos todos os meses. A população é jovem, mas
os investimentos em educação são baixos e os resultados péssimos. Têm-se
milhões de alunos, mas poucos estudantes de fato. O Brasil está em penúltimo
lugar em um ranking de educação entre 76 países pesquisados (IBCE).
Ao mesmo tempo, existem
empresas líderes no mercado mundial em seus segmentos. A agricultura é um
exemplo de produtividade e tecnologia para o mundo, quando abastece mais de 10%
de todas as mesas do planeta, mesmo que mais de 20% dos grãos sejam perdidos no
transporte entre produtores e portos. Os problemas de infraestrutura são enormes,
por mais que se tenha melhorado muito nos últimos dez anos. País de dimensões
continentais, 5ª maior população, 7ª maior economia do mundo, 63ª em renda per
capita, 79º em IDH (índice de Desenvolvimento Humano) e 116° lugar em um
ranking que aponta a facilidade de se fazer negócios.
A burocracia é um
gargalo. Nem mesmo o amado, temido e respeitado futebol está de cabeça erguida.
Gigante pela própria
natureza, rico, adorável, desigual, com mais de duzentos milhões de habitantes
submetidos a uma das maiores cargas tributárias do mundo com um dos piores
retornos sobre esses tributos. E acreditem, é um dos países mais maravilhosos
do mundo para se viver e um dos que tem mais oportunidades. Merece toda a
atenção do mundo, por mais contraditório e desafiante que pareça ser.
Percebe-se que o Brasil saiu da letargia
nos anos noventa depois da implantação do Plano Real. O país cresceu
substancialmente em dez anos, iniciou-se um processo de melhoramento da
infraestrutura e da produtividade das empresas, aumentaram-se as exportações de
produtos. Nestes anos, conseguiu-se reduzir a desigualdade social e as classes
menos favorecidas passaram a consumir e a ter mais renda. A taxa de desemprego
chegou a 3%. Aumentaram-se os gastos públicos a níveis assustadores, a ponto
de, na primeira dificuldade de gerar PIB, os cálculos não fecharam mais.
De lá para cá, a geração de riquezas
passou a ser menor que os gastos. Gerou-se um déficit orçamentário enorme e o
país entrou em recessão. Ao mesmo tempo, um esquema gigantesco de corrupção,
envolvendo a maior empresa do país foi descoberto. A partir daí o país,
erroneamente conhecido somente pelo futebol, carnaval e festas, passou a
entender que havia chegado a um novo estágio da sua história: o seu povo não
corroborava mais com a ideia de voltar aos patamares de subdesenvolvimento,
altos índices de inflação e altas taxas de desemprego que existiam nos anos setenta
e oitenta. O povo brasileiro foi às ruas aos milhões para dizer: chega, basta, a
festa deve acabar!
Segundo o renomado professor de Economia
Política da Universidade de Harvard, Dani Rodrik, o Brasil é o país mais
subestimado do mundo no momento. Rodrik citou que "Quando você olha para o
que está acontecendo, por um lado é chocante que haja uma corrupção tão
generalizada na Petrobras e que parece ter chegado até lá em cima. Por outro
lado, quando você olha como eles lidaram com a situação, é incrivelmente
impressionante. É algo que mesmo em um país avançado você não imaginaria
acontecer: todos esses promotores e juízes de fato estão seguindo o Estado de
Direito".
Há fortíssimos indícios de que o esquema
de corrupção que está sendo investigado seja o maior já descoberto na história,
no mundo. Fala-se em R$ 100 bilhões (30 bilhões de dólares aproximadamente). O
que dá esperança ao povo neste momento é que o método investigativo, utilizado
pela Polícia Federal, é semelhante ao que desarticulou a máfia italiana no
final do século passado. Vários empresários e políticos já foram presos e
outros estão sendo julgados. Mais de cem deputados e senadores estão sendo
investigados, além de treze ministros do governo federal e a própria família do
ex-presidente. Isso era impensável no Brasil anos atrás.
A atual presidente luta politicamente para
não sofrer um Impeachment (probabilidade de 40%) e o presidente da Câmara
Federal luta para não ser destituído do cargo por desvio de recursos. Reformas
precisarão ser feitas e gastos deverão ser cortados. Há uma lição de casa gigantesca
para ser feita, muito trabalho de limpeza e mudança de cultura. O país parece estar
mudando, e acredita-se que para bem melhor. Quem apostar no Brasil
provavelmente não se arrependerá!
Analistas estimam que o país tenha dificuldades nos próximos cinco anos, depois disso voltará aos níveis encontrados em 2013. O momento é de intensa ruptura. Se as festas Natalinas forem pensadas como uma simples data na qual as pessoas trocam presentes, será um péssimo momento. As previsões são de queda nas vendas de produtos na ordem de 30/40%, similares às vendas do início do ano até agora. Parte da população está endividada e outra parte está com receio de gastar dinheiro devido ao risco de desemprego, já na ordem de 8,7%. Mas se o real significado do Natal for o nascimento de uma nova era, da prosperidade e da renovação da esperança, os brasileiros terão o melhor Natal já visto e provavelmente os melhores anos depois de passada a crise. E que os corruptos sejam sentenciados e presos. Vamos ao trabalho e continuem investindo no Brasil, valerá a pena!

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